sexta-feira, 10 de junho de 2011

Os Sete Pecados da Memória - Segundo Pecado: Distração


Provavelmente você já cometeu esse pecado diversas vezes: as chaves do carro, o pagamento de uma conta ou até mesmo o motivo pelo qual você abriu a geladeira. Ao contrário do que se pode imaginar, a distração não é uma falha na memória propriamente dita. Na verdade, a distração se refere a eventos que não podem ser evocados pelo simples motivo de nunca terem sido registrados.
A distração está diretamente ligada a nossa atenção e geralmente acontece por dois motivos:

• Quando estamos realizando mais de uma tarefa simultaneamente e acabamos por não prestar atenção em alguma delas.
• Estamos realizando alguma tarefa e alguma coisa/alguém acaba por roubar nossa atenção.

Por exemplo, suponha que você tenha se esquecido onde estejam suas chaves. Provavelmente, você chegou em casa do trabalho cansado e acabou não prestando atenção no local em que as chaves foram abandonadas. 


Observe que o pecado da distração é completamente diferente do pecado da transitoriedade. Vamos a um exemplo: Alberto Einstein, o famoso físico, uma vez esqueceu um cheque vultoso dentro de um livro. Nesse caso, não foi uma distração: afinal, ele conscientemente abriu o livro e pensou: “Dentro desse livro, o cheque estará seguro”. O cheque ficou realmente em um local muito seguro – nem mesmo seu dono conseguiu resgatá-lo! Nesse caso, Einstein foi vítima da transitoriedade – o tempo acabou por desgastar essa lembrança e não da distração (como muitos costumam dizer).

Uma vez, cheguei a ir de carro para a faculdade e voltei de ônibus. Nesse caso, fica claro o fenômeno da distração – ir de carro para a faculdade não era algo freqüente quando eu tinha meus vinte e poucos anos. Aliás, caso eu fosse de carro diariamente para a UFMG, provavelmente eu jamais me esqueceria disso. Ainda me lembro da situação em que me esqueci do meu carro: havia acabado de fazer uma prova dificílima de Equações Diferenciais e ouvi um amigo dizer: “vamos rápido Alberto, o ônibus já está saindo”. Nem tive tempo para pensar, simplesmente entrei no ônibus – algo que eu já fazia diariamente. O engraçado dessa história é que só fui perceber que havia esquecido o carro ao me deparar com a ausência do carro na garagem. Ainda que essa história possa ser engraçada hoje, o fenômeno da distração pode trazer terríveis conseqüências.

Existem algumas estratégias para se evitar o pecado da distração:

• Criar vínculos com hábitos diários.
• Usar estratégias externas.
• Evitar ao máximo a multi-tarefa.
• Exercitar sua habilidade em concentrar-se.

Criando vínculos com hábitos diários

É muito comum que pessoas com a memória saudável se esqueçam de tomar algum medicamento. Geralmente, esses lapsos ocorrem porque tal medicamento é tomado apenas esporadicamente. Por exemplo, suponha que você toma diariamente, algum tipo de remédio controlado. Nesse caso, por ser um hábito repetido por anos e anos, ele dificilmente será esquecido.

Em contrapartida, imagine que você fez recentemente alguma cirurgia e precisará tomar algum remédio, diariamente, pelos próximos dez dias. Grandes são as chances de, nos primeiros dias, o pecado da transitoriedade ou da distração ocorrerem.
Uma boa estratégia para evitar esses pequenos esquecimentos é estabelecer alguma associação entre o remédio e algum hábito diário ou necessidade fisiológica.
Por exemplo, suponha que você precise tomar um remédio a cada 12 horas. Nesse caso, você pode criar a seguinte associação: “Tomarei o remédio logo após o café e pouco antes de me deitar para dormir”. Idosos com déficits graves de memória também costumam lembrar-se melhor de seus remédios quando eles estão associados a alguma das suas atividades diárias (principalmente as refeições).

Quando eu não ainda era campeão e recordista de memória, eu tinha sérios problemas em encontrar três coisas: minha carteira, meu celular e minhas chaves. Desse modo, todos os dias aconteciam o mesmo estresse: perdia vários minutos buscando cada um deles. Atualmente, utilizo uma estratégia muito simples: elegi a mesa da sala da minha casa como o meu “móvel das recordações”. Ao chegar em casa, deixo meu celular, minha agenda, minha carteira e minhas chaves sobre essa mesa.

Há alguns anos, outra distração sempre me incomodava: eu dificilmente encontrava meu carro no estacionamento do shopping. Uma vez, cheguei a ir ao cinema por ter desistido de achar meu carro (afinal, ao fim do filme às 23:00, eu facilmente encontraria meu carro). Nesse caso, bastaria criar o hábito de utilizar alguns dos métodos que utilizo hoje para memorizar o número da vaga em que estacionei (ao longo do livro, você aprenderá meu sistema para memorização de números).
Assim, procure incorporar ao seu dia a dia todos seus afazeres diários.

Estratégias externas de memorização

As estratégias externas dizem respeito à inserção de códigos de memória no próprio ambiente. Um exemplo desse tipo de estratégia é, na véspera de levar alguns documentos importantes para alguém, deixar os mesmos sobre a mesa. No dia seguinte, ao avistá-los, eles serão capazes de evocar a importância de levá-los consigo.
Em contrapartida, as estratégias internas dizem respeito à criação de uma codificação mais adequada da informação, como os processos mnemônicos por exemplo.
Quando tratamos da lembrança de eventos futuros (tomar medicamentos, retirar algo do forno, ligar para alguém em seu aniversário...) o melhor é utilizarmos alguma estratégia externa. Existe um provérbio chinês que diz: “a tinta mais fraca é melhor que a melhor memória”. Eles estão corretos: lembrar-se de eventos futuros é uma das tarefas das mais difíceis. O motivo é simples: a lembrança depende de algum gatilho de memória, algo que a dispare. Ao se tratar de eventos futuros, esse gatilho simplesmente não existe. Além disso, eventos futuros são os melhores candidatos ao pecado da transitoriedade.

Compre e crie o hábito de utilizar uma agenda. Aliás, o simples fato de você anotar alguma informação já aumenta as chances da lembrança. Costumo ouvir diariamente relatos de pacientes/alunos que anotam seus compromissos na agenda todos os dias, mas sequer precisam consultá-la posteriormente. Ao anotar, você cria mais uma codificação para a memória, diminuindo os riscos do Pecado da Transitoriedade.
Se você for adepto de tecnologias, use e abuse das funções do seu PDA, notebook ou smartphone. Tais aparelhos possuem todas as funções necessárias para que você não se esqueça de seus compromissos.

NOTA IMPORTANTE: jamais confie apenas nesses aparelhos eletrônicos. Sua agenda de papel jamais perderá sua bateria, firmware ou qualquer outro desastre a que os equipamentos eletrônicos estão sujeitos!

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns pelo blog Alberto. O seu esforço em mantê-lo proporciona o crescimento intelectual e a felicidade de muitas pessoas. É um prazer encontrar blogs como o seu na internet. Parabéns.

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