terça-feira, 7 de junho de 2011

01 - Sete Pecados da Memória - Introdução

(Gostou? Deixe seu comentário para que eu saiba se os textos estão agradando vocês - ou não)
 
Ao contrário do que se imagina, nossa memória é extremamente frágil. Ainda que sejamos capazes de memorizar milhares de fatos, números de telefone ou até mesmo cartas de baralho, nossa memória por muitas vezes trai nossa confiança. Uma vez, um paciente com cerca de 50 anos me abordou dizendo que estava extremamente preocupado com sua memória. “Estou muito preocupado com minha memória. Frequentemente esqueço onde coloquei minhas chaves, minha carteira ou até mesmo meus remédios”.



Esse paciente encontrava-se aparentemente saudável e articulava-se muito bem oralmente. Pensei: “não me parece ser um candidato a ter sérios problemas de memória. De qualquer forma, realizamos uma bateria de testes com esse paciente e acabamos por descobrir seu problema: desorganização. Assim, bastou que ele criasse alguns bons hábitos para que seus problemas de memória desaparecessem.

Outra vez, uma jovem paciente relatou: “Um dia desses, após realizar compras no super-mercado, senti a falta da minha carteira. Fui roubada, pensei. Antes de desempacotar as compras, me dirigi ao posto policial para fazer um boletim de ocorrência. Após quase 2 horas, chego em casa. Ao desempacotar as compras, encontro minha carteira dentro de uma das sacolas de plástico”. Ainda que esse lapso de memória tenha causado certo transtorno, ele é exemplo de que a distração e os lapsos de memória são parte da condição humana.

Minha apresentação no programa “Domingão do Faustão” ocorreu apenas em 2008. Apesar disso, recebi dezenas de E-mails entre 2006 e 2007 me congratulando pela minha participação nesse programa. Esse é um caso que chamo de “atribuição equivocada” durante o processo de memorização. Nesse caso, essas pessoas me assistiram em algum outro programa de TV, mas acabaram por atribuir essa memória a um outro evento, que ainda não tinha acontecido.

Assim, esses pequenos lapsos de memória ocasionais são comuns a todas as idades. Sim, até mesmo crianças estão sujeitos a eles. Em meus workshops de memória, costumo brincar dizendo que o esquecimento muda de nome com o passar do tempo. Por exemplo, suponha que um adolescente deveria para uma conta para seu pai e acaba se esquecendo. Nesse caso, o esquecimento passa a ter os seguintes nomes: “irresponsabilidade”, “excesso de dever de casa”, “namorada” ou até mesmo “vestibular”. Em contrapartida, se um adulto com cerca de 30 anos se esquece de pagar uma conta, o esquecimento tem outros nomes: “estresse”, “filhos”, “trabalho”, dentre outros. No entanto, se um adulto com mais de 50 anos se esquece de pagar uma conta, o esquecimento passa a ter apenas nome: “velhice”.

Veja bem: não estou dizendo que nossa memória não piore com o passar do tempo. No entanto, a maior parte das críticas de adultos e idosos em relação a sua própria memória são decorrentes maus hábitos de memória, não sendo consequencia do passar do tempo.

Em seu livro Os Sete Pecados da Memória (2001), Daniel Schacter, professor de psicologia na Universidade de Harvard, analisa os tipos de lapsos de memória mais comuns e denomina-os de “pecados” da memória. Tais “pecados” afetam todos nós e não apenas pacientes com graves limitações de memória. Os sete pecados seriam:


  • Transitoriedade, referente ao enfraquecimento da memória com o passar do tempo.
  • Distração, que ocorre quando a nossa desatenção durante a memorização.
  • Bloqueio, situação em que a existência de memórias indesejadas que bloqueiam a informação a ser evocada.
  • Atribuição equivocada, onde ocorre uma mistura entre o evento a ser evocado e outros eventos (reais ou não).

  • Viés pessoal, onde editamos nossas memórias de acordo com nossas experiências e valores pessoais.

  • Sugestionabilidade, referente a memórias falsas implantadas em nossas mentes, decorrentes de perguntas, sugestões ou comentários durante interrogatórios.

  • Persistência, em que não conseguimos nos livrar das memórias indesejáveis.

Os pecados da transitoriedade, bloqueio e atribuição são chamados de pecados de omissão. Ou seja, nós falhamos ao tentar evocar algum fato, dado ou evento. Em contrapartida, os outros quatro pecados são erros de comissão. Ou seja, alguma forma da lembrança está presente, mas está incorreta ou é indesejável. A seguir, aprenda um pouco mais sobre cada um dos pecados da memória. (continua...)

2 comentários:

Lucass disse...

Esperando o segundo post o da Distração...
Ótimo blog Alberto, continue assim humilde e compartilhando o que sabe!

Lú Voigt disse...

Vou começar a colocar em prática seus ensinamentos, minha memória é péssima e espero ao menos não esquecer nomes de pessoas que acabaram de ser apresentadas a mim. Obrigada

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